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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

IDENTIFICAÇÃO: o amor de Deus em ação

 Amor e atitudes – cruz e compromisso


            Nos últimos dois artigos falei sobre o amor que devemos nutrir por Deus. Falamos sobre ter um coração acelerado, arrebatado, apaixonado por Jesus. Entretanto, uma das grandes questões ao se falar sobre amor é que a maioria das pessoas faz uma leitura da palavra amor sempre no nível de sentimento ou emoção. Não é para menos, a TV, os livros e a nossa cultura nos fazem pensar desta forma. Contudo, o amor deve ser compreendido como atitudes muito mais do que sentimentos e emoções. Quando falo sobre o assunto e peço as pessoas para definirem a palavra amor as definições que escuto são “O sentimento mais profundo do ser”, ou “o maior de todos os sentimentos” e por aí vai.
            Quando falamos sobre amar ao Senhor somos levados automaticamente a pensar em um profundo sentimento por Deus, entretanto, como diz Richard Foster, “amamos a Deus amando ao nosso próximo, e podemos amar ao nosso próximo somente quando amamos a Deus. Os dois mandamentos formam uma túnica inteiriça”. Quando Jesus foi indagado acerca do principal mandamento Ele sabiamente disse que o segundo e também importante mandamento é amar ao próximo como a si mesmo. Jesus ainda disse que destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. Os dois mandamentos se complementam; amar a Deus e amar ao próximo. Citando uma vez mais Richard Foster, “Quando tentamos amar a Deus sem amar ao nosso próximo, nos separamos da artéria pulmonar de Deus, portanto, se amarmos a Deus de todo coração alma, mente e força, seremos necessariamente atraídos ao amor ao próximo”. Dietrich Bonhoefer disse que “o amor humano deixado por conta própria ama os outros por amor a si mesmo. Enquanto que o amor ágape ama aos outros por amor a Deus.”
            Como já disse, o verdadeiro amor é demonstrado através de atitudes muito mais que através de sentimentos. Observe o que Jesus disse:


“ Se me amais, guardareis os meus mandamentos.” (João 14:15) 


“ Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele.” (João 14:21) 

“ Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. “ Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.” 
(João 14:23, 24)


A cruz de Cristo e a nossa cruz

            A guarda dos mandamentos está atrelada ao amor ao Senhor; se não for assim tudo será mero legalismo. Quando tentamos guardar os mandamentos sem amar ao Senhor, das duas coisas, uma; ou falharemos bem cedo ou estaremos fadados a mediocridade, a hipocrisia e ao legalismo.
            O amor gera obediência e compromisso. Se amarmos a Deus o obedeceremos. Esta santa obediência não é apenas “não mato”, “não roubo”, “não adultero”, ou, “não bebo”, “não fumo”, “não faço isso”, “não faço aquilo”. Tem muita gente que não faz nada disso, contudo não serve ao senhor. Quando o amamos de verdade, não praticamos nada disso porque não precisamos; temos um compromisso com Deus; Ele fez uma aliança conosco e o símbolo desta aliança é a cruz. A cruz de Cristo e a nossa cruz.
            Quando um casal se casa eles colocam um anel no dedo um do outro e o chamam de aliança. Uma aliança é um pacto de fidelidade. Quando Jesus morreu na cruz Ele fez uma aliança, um pacto conosco. Não podemos confundir a nossa cruz com a cruz de Cristo. A cruz de Cristo não foi apenas aquele pedaço de madeiro onde Ele foi crucificado; a cruz se tornou um símbolo de sua identificação com o nosso pecado. A crucificação de Cristo começou quando Ele se tornou homem e culminou no gólgota. Sua ressurreição é o símbolo da vitória! A páscoa a celebração desta vitória!
É necessário que entendamos uma coisa. Quando Jesus diz que quem quiser segui-lo precisa negar-se a si mesmo e tomar a cruz a cada dia, esta cruz que precisamos tomar não é a cruz de Cristo é a nossa cruz, ou seja, na aliança que Jesus fez conosco o compromisso dele foi viver no mundo e morrer por nós; o nosso compromisso é morrer para o mundo e viver para Ele! Esta é a cruz que temos que tomar a cada dia! O negar-se a si mesmo não é apenas negar os prazeres da carne como muitos logo pensam; é viver de acordo com sua vontade. Todos os nossos planos, sonhos, projetos e toda a nossa vida estão submetidos à vontade dele, pois Ele sabe o que é melhor para nós.
Ele nos ajuda a tomar as decisões mais acertadas, entretanto este compromisso de fidelidade envolve um mistério público. Da mesma forma que Deus enviou Jesus ao mundo para salvar o mundo, Jesus nos envia ao mundo como seus representantes. Nossa missão deriva da missão de Cristo. Esta parte da aliança é inevitável, inadiável e obrigatória. Se de fato amamos a Jesus, amaremos também as pessoas por quem Ele morreu! A exemplo de Cristo precisamos nos identificar com as pessoas.
Identificação: Amor ativo e amor passivo
Para você entender como os dois mandamentos se complementam, imagine que o amor tem um lado passivo e outro ativo.
Amor passivo: Recebemos o seu amor à No lado passivo recebemos de Deus o amor, o cuidado, o abraço, o carinho, o perdão dos pecados, a misericórdia, a graça e muito mais e assim nos sentimos amados.
Amor ativo: Propagamos o amor dele identificando-nos com o nosso próximo.

O que é identificação?

A semelhança de Jesus, precisamos nos identificar com as pessoas. Jesus se deu, se esvaziou dos poderes da divindade. Ele andou entre nós, foi a festas onde havia “pecadores”, caminhou quilômetros na companhia dos discípulos, entrou nas casas, estava freqüentemente no pátio do templo entre as pessoas comuns. Jesus andou de barco, montou num jumento, sentou-se a beira da praia para comer peixe e pão com os discípulos, dormiu no monte e fez muita coisa mais! Depois foi crucificado e morreu por nos amar!
Isso é identificação! Jesus se identificou conosco! É por isso que o texto áureo da Bíblia diz que “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Jesus nos amou de uma maneira tal que resolveu se tornar um de nós para nos salvar.

A identificação e o evangelismo

            Tenho falado e escrito sobre a necessidade da igreja chorar e prantear pelos perdidos. À semelhança do apóstolo Paulo, precisamos sentir dores de parto afim de que as pessoas nasçam espiritualmente, entretanto sei que isto não nos sobrevêm facilmente. É necessário que antes haja uma identificação com a pessoa a qual queremos interceder e levá-la a Cristo. Rees Howells, um Galês que ficou conhecido na história como “o intercessor”, foi levado pelo Espírito Santo a se identificar com as pessoas e numa época em que estava intercedendo por um tuberculoso ele teve sintomas de tuberculose. Quando o tuberculoso ficou curado os sintomas desapareceram! Numa época em que estava evangelizando mendigos ele passou a usar roupas mais simples e era freqüentemente visto no meio deles ou os levava para sua casa. Ao evangelizar pessoas pobres ele passou a viver com duas refeições diárias até que todos fossem salvos. Sabe qual foi o resultado disso tudo? Ele levou todas estas pessoas a um relacionamento com Cristo!
            Quando falo que o evangelismo de cruzada, e as formas de evangelismo convencionais que utilizamos não trazem os resultados que esperamos muitas pessoas não me compreendem e acham que estou me opondo a elas. Entenda uma coisa; Precisamos evangelizar nas ruas, na TV, na internet, no templo e em todos os lugares e utilizando todos os meios possíveis. Entretanto bato numa tecla insistentemente e contra fatos não há argumentos. O modelo de evangelismo mais eficaz até hoje é o modelo deixado por Jesus; o evangelismo através dos relacionamentos.
Jesus pregou em meio às multidões, mas Ele não era um “pregador de porcelana” intocável e inacessível como muitos pregadores hoje são. Jesus se misturou com as pessoas. Ele adentrava em suas casas, conversava com elas, lhes aconselhava, dormia junto de seus discípulos, caminhava com eles, comia junto deles. Jesus se identificou com as pessoas; Jesus as amou! Que vergonha para alguns evangelistas modernos que andam com seguranças, entram e saem pelas portas dos fundos, exigem hotéis cinco estrelas e jatos de luxo e nem mesmo a esposa e os filhos às vezes têm acesso fácil a eles!
Costumo dizer que entregar folhetos, pregar nas praças, trens e metrô ou organizar campanhas e cruzadas evangelísticas é muito fácil e mesmo assim as pessoas não querem fazer! Difícil é identificar-se com as pessoas e é isto o que está faltando à igreja. A exemplo de Daniel precisamos pedir perdão a Deus pelos pecados do povo até que o povo possa pedir perdão por si mesmo. Leia Danie 9, mas antes veja aqui parte do texto:



“ Voltei o rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, pano de saco e cinza. Orei ao SENHOR, meu Deus, confessei e disse: ah! Senhor! Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos; temos pecado e cometido iniquidades, procedemos perversamente e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos; e não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis, nossos príncipes e nossos pais, como também a todo o povo da terra.” (Daniel 9:3-6)


Precisamos orar, jejuar, prantear e chorar pelos nossos parentes, amigos e irmãos que estão caminhando a passos largos para a perdição, mas infelizmente estamos muito ocupados com congressos, campanhas, shows, confraternizações, ensaios, cultos de departamentos, brigas, contendas, fofocas, e com a nossa vida de forma geral.
Criamos o nosso dialeto, as nossas roupas e a nossa cultura e isto criou um abismo quase intransponível entre nós e os perdidos. Eu disse quase intransponível, pois pela misericórdia de Deus muitas pessoas têm encontrado o caminho. As pessoas se convertem e a nossa estrutura e cultura fazem com que elas percam o contato com os descrentes e assim percam a possibilidade de levá-los a Cristo. Precisamos preparar os novos convertidos para que eles levem mais pessoas ao reconhecimento da soberania de Cristo, porque quanto mais uma pessoa caminha em direção ao serviço e a liderança em uma igreja mais ela perde o contato com os descrentes. O Instituto para Desenvolvimento Natural da Igreja realizou uma pesquisa que comprovou isto. Analise o gráfico ao lado e perceba que um pastor está no topo da pirâmide de contatos e conseqüentemente longe dos descrentes.
Constantemente ouvimos os pregadores dizendo-nos que precisamos ter compaixão pelos perdidos, mas como ter compaixão deles se a cada dia nos afastamos mais e mais? Como ter compaixão se ao contrário de Jesus estamos levando remédio para os sãos? Precisamos urgentemente rever o quanto amamos a Deus e rever também os nossos métodos evangelísticos
           
A identificação e o ministério cristão

            Até mesmo no dia-a-dia da igreja precisamos da identificação. Não há como exercer o ministério cristão com eficiência sem amor, se não, como já disse acima, isso também será um mero legalismo ou exerceremos apenas para nossa auto-realização.
             Querido pastor pregue se identificando com suas ovelhas. Busque de Deus em oração alimento para elas. Pare de dar capim seco a elas e água barrenta. Tire tempo suficiente para receber alimento fresco do céu para alimentá-las. Após receber de Deus a direção do que ensinar tire tempo suficiente para preparar uma mensagem que as pessoas compreendam e que as leve a reflexão profunda. Há pastores que pulam, gritam, suam, fazem as pessoas delirar em pura adrenalina e no final elas vão para casa e tudo não passou de emoção. Se perguntarmos no dia seguinte o que ele ensinou ninguém sabe e há alguns que dirão: “não me lembro do que ele falou, só sei que o fogo caiu!”. Você percebeu que falei sobre adrenalina? Pois é isso mesmo! Está comprovado cientificamente que os pregadores estimulam a adrenalina em seus ouvintes. Se a mensagem não tiver um importante conteúdo tudo não passará de emoção! Precisamos de pastores que domingo após domingo, culto após culto, mensagem após mensagem façam as pessoas pensar e mudar. Só pulos e gritaria não bastam. Aliás, os pastores precisam aprender a ensinar andando no meio do povo, convivendo com as pessoas. O verdadeiro pastor tem o cheiro das suas ovelhas!
            Cantores e ministério de música, cantem se colocando no lugar de seus ouvintes. Lembre-se que a sua música precisa vir direto do trono de Deus e alcançar o coração das pessoas. Cantem ou toquem seus instrumentos em atitude de serviço e intercessão para que cada nota, cada acorde, saia com uma unção tal que cure as pessoas física e espiritualmente e que a vida delas seja mudada. Não dá para continuarmos assistindo um show a cada culto ou então o oposto; pessoas totalmente despreparadas e uma música de péssima qualidade que mal passa do teto. Há ministérios de louvor que promovem palmas, gritos, danças, êxtase e muita, muita adrenalina menos mudança em seus ouvintes ou profunda adoração ao Senhor. Isso precisa mudar!
            Se sua igreja tem discipuladores pessoais esta palavra é para eles: vocês discipuladores, estão mais próximos dos membros do que qualquer outra pessoa; até mesmo do que o pastor! Identifiquem-se com seus discípulos. Discipulado é transferência de vida, não é apenas um repasse de informações ou de conceitos e doutrinas. Mais do que qualquer pessoa você precisa amar as pessoas. Quando ensino a líderes e pastores sobre discipulado “um a um” percebo pessoas “torcendo o nariz”, pois isto envolve tempo e nós não temos tempo para as pessoas, pois, vou repetir estamos muito ocupados com congressos, campanhas, shows, confraternizações, ensaios, cultos de departamentos, brigas, contendas, fofocas, e com a nossa vida de forma geral.
            Professor da EBD, recepcionista, líder de departamento, diácono, evangelista identifiquem-se procurem meios de se identificar com as pessoas através de suas funções.
            Leve este princípio para todas as esferas de relacionamento: Pai, mãe, aluno, patrão, empregado, chefe etc. identifiquem-se com as pessoas!
            Para encerrar quero dizer que podemos ser um canal ou então ser um lago. Um canal recebe a água, mas não pode usufruir dela, pois apesar de passar água em grande quantidade a água não pára. Já o lago recebe a água e a despeja por um canal. Ao observarmos um lago parece que as águas estão paradas, mas não estão. Há vida em seu interior. Há fluxo e refluxo. O lago recebe e dá. Não seja também como o mar morto que recebe as águas do Rio Jordão, mas não a despeja em lugar algum e por falta de refluxo e da grande quantidade de sal ali contido as águas são mortas. Não há peixes, não há plantas Não há vida!
            Precisamos receber o amor de Deus e precisamos amar as pessoas com o amor de Deus, se não, não haverá vida em nós. Precisamos ser como uma bateria que depois de descarregada precisa de recarga para receber mais energia. Cada momento que passamos em oração e meditação é importante para que carreguemos as nossas baterias com o amor e a unção de Deus.
       
                                                   Pr. Valdecy de Jesus Marques 

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