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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

TU ME AMAS? CUIDE DAS MINHAS OVELHINHAS! (2ª parte)


“Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.” (João 21:15-17 RA)


DE VOLTA AO TEXTO BÍBLICO


Tu sabes que gosto de você!
            Se você estudou com calma cada palavra no artigo anterior creio que já está entendendo porque Jesus utilizou “ágape” e Pedro “filos”. Podemos agora entender que Jesus perguntou a Pedro se ele o amava a ponto de se sacrificar pelos seus seguidores; a ponto de dar a sua vida por eles como Jesus dera a sua própria vida.
          Pedro sabia que para amar ao mestre era necessário dar a vida pelos seus seguidores sem esperar nada em troca. Pedro sabia que era necessário ser paciente, bondoso, benigno, manso, humilde. Pedro sabia que tinha que crer, esperar e suportar. Ele sabia que não poderia basear o seu relacionamento com os discípulos em atrações, parentesco ou afeição. Também sabia que não poderia agir baseado em glândulas, laços genéticos, emoções, mas sim, na vontade. Ele não poderia dizer “te amo” baseado em “se...” ou “porque...”, mas simplesmente dizer: “Eu te amo”.
          É por isso que alguns tradutores bíblicos traduzem a resposta de Pedro a Jesus como: “tu sabes que gosto de você”, como é o caso da primeira tradução da NVI. Algumas pessoas não concordaram com a tradução e numa revisão posterior o texto foi alterado. Pedro não conseguiu dizer a Jesus que o amava a ponto de dar a sua vida. Na terceira vez Jesus troca de termo e utiliza “filos” e aí então Pedro diz: “Tu sabes todas as coisas. Tu sabes que eu gosto de você”.

Tu me amas? Apascenta... Cuida... Alimenta... Pastoreia...
          Outra coisa importante a considerar no texto é que Jesus utiliza palavras diferenciadas quando pede a Pedro para se responsabilizar pelo cuidado aos seus seguidores. 


1. Alimentar as ovelhinhas

Perceba que no verso 15 ele utiliza as palavras:
a) Apascenta: boskw (bosko)
b) Cordeiros: arnion  (arnion)

A expressão Bosje ta aqmia lou" no grego significa: Alimenta as minhas ovelhinhas.


          Você já parou para pensar como seria alimentar uma ovelhinha? Eu e minha esposa já tivemos esta experiência! Um vizinho um dia viajou e pediu-nos para cuidar de uma de suas ovelhinhas, pois a mãe a rejeitou. Tínhamos que pela manhã e a tarde dar mamadeira para aquela pequena ovelha! Isto requer muito cuidado. Pegávamos a ovelhinha no colo, um a segurava e outro dava a mamadeira. Às vezes ela fugia e nós tínhamos que correr atrás dela pelo pasto; o que não era nada fácil.

          Cuidar de ovelhas requer muito cuidado, e da mesma forma, cuidar de pessoas requer muito cuidado também. Um pastor sozinho não pode pastorear um rebanho muito grande, pois não conseguirá tratar das ovelhas eficientemente quando elas tiverem ovelhinhas. Quando uma pessoa se converte ela é como uma pequena ovelhinha que precisa de cuidados especiais até que atinja a maturidade.

2. Apascentar as ovelhas
Já no verso 16 as palavras são:

a) Pastoreia: poimainw (poimaino)      
b) Ovelhas: probaton (probaton)


          A palavra pastoreia (poimaino) é traduzida desta forma, porém não expressa a totalidade do que o termo quer dizer. O termo “poimaino” se refere a tudo o que está envolvido na tarefa diária de um pastor. Dentre algumas dessas tarefas destacamos:


--   Cuidar, tomar conta
--   Governar, administrar, reger
--   Alimentar
--   Suprir o necessário para a subsistência.

          Segundo James Strongs “As tarefas do pastor no oriente próximo eram: - ficar atento aos inimigos que tentavam atacar o rebanho - defender o rebanho dos agressores - curar a ovelha ferida e doente - achar e salvar a ovelha perdida ou presa em armadilha - amar o rebanho, compartilhando sua vida e desta forma ir ganhando a sua confiança”.
          Você percebeu que o pastor precisava “compartilhar a sua vida” para ganhar a confiança das ovelhas? Essa é a tarefa daquele na igreja que cuida de pessoas. Entenda uma coisa; Sei que Deus dotou pessoas na igreja com o dom e o chamado ministerial de pastor, no entanto, fazendo minhas as palavras de Éd René Kivitz, uma coisa é o ministério do pastor da igreja e outra coisa é o ministério pastoral da igreja. Em certo sentido, todos na igreja têm um chamado para ajudar no pastoreio; ainda que não seja um pastor, líder ou tenha qualquer função, você também é responsável pelo cuidado de seus irmãos na fé e a base desse cuidado é o amor. Não podemos nos esquivar de nosso ministério pastoral.

3. Alimentar as ovelhas

No verso 17 o imperativo é:


a) Alimenta: boskw  (bosko)       
b) Ovelhas: probaton (probaton)


          Se juntarmos os pontos um, dois e três entenderemos que a semelhança de Pedro precisamos alimentar os recém-nascidos na fé, dar todo o cuidado necessário que cada pessoa na igreja precisa para que tenha maturidade e se reproduza. Que relação o amor tem com tudo isso? É simples responder! Sem verdadeiro amor não há verdadeiro pastoreio! Sem verdadeiro amor não há relacionamentos profundos e saudáveis e não haverá maturidade e reprodução com qualidade.



OS QUATRO TIPOS DE AMOR E O NOSSO RELACIONAMENTO COM DEUS

          Tenho falado desde o artigo “amantes ou prostitutas” sobre amar a Deus. Em outro artigo falamos sobre ter um coração apaixonado pelo Senhor. Diante de tudo o que ora aprendemos podemos entender melhor o nosso relacionamento com Deus. Se analisarmos com calma perceberemos que em certo sentido nos relacionamos com Deus baseados em um dos quatro tipos de amor. A base do nosso relacionamento com Deus deve ser o amor ágape, todavia percebemos que as pessoas, ou por que não dizer nós mesmos, agimos baseados nos três outros tipos de amor.

Relacionamento com Deus baseado em amor Storge

            Lembre-se que Storge é um tipo de amor baseado em lealdade por laços familiares. Já percebeu que às vezes nos encontramos tristes, desanimados, decepcionados, com a fé esmorecida e por medo das conseqüências do pecado, não cometemos nada moralmente reprovável, não reclamamos, não nos rebelamos. Simplesmente nos recolhemos em nosso interior. Muitas pessoas passam por esta “crise” por dias, semanas, meses ou anos. Elas não se rebelam, se dizem cristãs, dizem que temem a Deus, dizem que amam a Deus, contudo elas estão se esforçando para serem leais com Deus, pois afinal de contas Ele é Deus. Jesus morreu na cruz para salvá-las e elas precisam por uma questão de lealdade manterem-se fiéis. A fidelidade nessa hora não é baseada em amor ágape, mas em amor storge, ou seja, elas sã leais a Deus, simplesmente por aquilo que Deus representa.

Relacionamento com Deus baseado em amor Filos

           
          Creio que essa é a forma com a qual nos relacionamos com Deus com mais freqüência. O amor filos é condicional e por isso quando parece que Deus não está nos ouvindo, ou atendendo aos nossos anseios e necessidades da forma como queremos, nos rebelamos, nos entristecemos e às vezes até pecamos como que para se “vingar” de Deus.
          Tenho ensinado que a base da verdadeira adoração é amar e servir a Deus baseados naquilo que Ele é para nós e não naquilo que Ele faz por nós. Quando baseamos nosso relacionamento com Deus em “filos” estamos sempre esperando receber algo de Deus. “Amamos” a Deus baseados em “se” e “porque”. Para agravar tudo ainda mais, muitos pregadores têm pregado um evangelho capenga que ensina as pessoas a ir a Deus apenas para resolverem os seus problemas particulares. Acho que nunca houve uma geração de crentes tão interesseiros como esta geração que agora vemos.


Relacionamento com Deus baseado em amor Eros


          Opa! Antes de achar isso um absurdo leia calmamente. Eros baseia-se em emoção. Quando conhecemos a Jesus ficamos tão hílares e a sensação é tão sublime que os indivíduos que são do tipo “coração-antes-da-cabeça” (emocionais) podem ficar até inebriados com o amor de Deus que esta emoção, como no caso da paixão física, se não for controlada pode se tornar algo prejudicial. Na realidade todos nós corremos dois riscos; o de esfriarmos em nosso relacionamento ou o de nos deslocarmos para a outra ponta do espectro: basear o nosso relacionamento com Deus apenas em emoções.


Adrenalina nos cultos

          Quando uma pessoa sofre uma emoção forte as glândulas adrenais (localizadas na parte superior dos rins) liberam adrenalina. Ela entra na corrente sangüínea e no coração provocando aumento dos batimentos cardíacos; com isso mais sangue é bombeado para os músculos. A adrenalina estimula, ainda, uma contração dos vasos sanguíneos, que serve para "empurrar" o sangue e melhorar a irrigação em centros vitais como o cérebro.
          O que isto tem a ver com nossos cultos? Estamos vivendo uma era onde as pessoas estão substituindo a atuação do Espírito Santo pela adrenalina. Principalmente através da música, os crentes têm ido aos cultos à espera de viver emoções. A música pode exercer um tremendo efeito sobre as emoções liberando um surto de adrenalina o que traz sensações agradáveis e prazerosas.
          O Dr. Archibald Hart adverte-nos que a dependência por adrenalina é tão real quanto à dependência por drogas ou outros vícios. E mostra como isto ocorre dentro de alguns estilos de adoração. Em muitas igrejas hoje, estamos sendo enganados por "emoções de adrenalina", produzidas por repetições musicais e ritmos estimulantes, achando que é a presença do Espírito Santo. O movimento pentecostal moderno e o neo-pentecostal são muito susceptíveis a isto. Eu sei que Deus atua de formas variadas, entretanto me preocupa muito a crescente busca por reuniões onde haja manifestações místicas.
          Quando procuramos uma determinada "sensação" nos cultos, podemos estar desenvolvendo uma dependência emocional a este efeito que encontramos principalmente na música. O grande problema é que em tais situações a "manifesta presença" de Deus já não mais se manifesta, contudo, ninguém percebe.

Re-te-té de Jeová!?

          Eu sei que talvez seja julgado por alguns dos meus amigos que leem constantemente os meus artigos, entretanto me preocupa a crescente busca por cultos onde há o chamado reteté ou repleplé. As pessoas vão para os montes, vigílias e outras reuniões na expectativa de que Deus manifeste a sua presença, só que cada vez mais tenho percebido que os crentes têm vivido um estranho tipo de evangelho onde o que acontece é sensacionalismo e emocionalismo catártico. A cada dia vão surgindo expressões e práticas novas como “sapatinho de fogo”, “unção do cajado”, “unção do riso, do leão, da urina, da águia”, “galo que profetiza” e muitas outras.
          O problema do movimento re-te-té é que as pessoas acabam fabricando essas manifestações sem o perceber. Como? Basta o batuque dos pandeiros, embalados pelos corinhos de fogo começar ou o pastor ou o cantor se sacudirem e o agito começa. Já fui em reuniões onde o culto estava “normal”, entretanto algumas pessoas estavam meio dispersas, e de repente ágüem começa a cantar um “corinho de fogo” e de salto, estas pessoas começam a se requebrar, se entortar, rodopiar e quando o corinho acaba, todos param automaticamente e voltam a ficar dispersos novamente. Estou falado de coisas que eu presenciei e que você com certeza já presenciou também. A maior parte dessas manifestações não é fogo de Deus, não é agir de Deus. É emocionalismo simplesmente. Pessoas que denunciam estas coisas - como eu estou fazendo agora - são chamadas de frias, insensíveis e até de heréticas.
          Recentemente uma amiga que mora na Alemanha me ligou, pois estava prestes a tomar uma decisão muito séria. Ela queria deixar a igreja brasileira onde assistia e ajudava nos cultos para se agregar a uma igreja alemã. A insatisfação dela com esta igreja brasileira era devido a crescente busca dos crentes brasileiros que moram na Alemanha pelas manifestações características do reteté. Por não concordar ela estava sendo taxada de fria, tradicional e coisas piores. A principal indignação é que o esposo dela que é alemão não entende muito bem o que acontece nos cultos. Ela procura evangelizar a família dele, contudo quando eles vão aos cultos não se sentem bem. Esta amiga passou mais de uma hora comigo ao telefone e o que ela queria, ou na realidade precisava era de alguém que pudesse lhe dar o aval para a sua atitude e também alguém para poder dividir a sua consternação, pois achava-se sozinha em seus conceitos. Não pude fazer outra coisa se não dar-lhe o apoio e ajudá-la a identificar uma igreja onde ela possa expressar a sua fé.
          Isto nos traz a mente algo no qual precisamos refletir: Muitos crentes têm gasto muito tempo das reuniões buscando experiências e sensações e abandonam os cultos de intercessão e oração que marcaram o início do movimento pentecostal ortodoxo. Antigamente as vigílias eram “vigílias de oração” e as pessoas passavam a madrugada inteira em intercessão. Nas vigílias de hoje se não houver cantores, pregadores e irmãos ditos “de fogo” ninguém quer ir. Não há mais oração nessas vigílias, há muita cantoria, muito frenesi e muito emocionalismo.
          Eu sei que a fé às vezes se expressa através do emocional, entretanto o emocional não é o normativo em nosso relacionamento com Deus. A fé é muito mais razão do que emoção. Por isso a base do nosso relacionamento com Deus deve ser o amor ágape. Podemos ter um coração acelerado e apaixonado pelo Senhor, entretanto devemos amar ao Senhor e ao nosso próximo com atitudes.

                      Pr. Valdecy de Jesus Marques

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