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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

VOCÊ JÁ FALOU DE JESUS, COM JESUS E PARA JESUS HOJE?


      Nós evangélicos armamos algumas arapucas e depois nos enfiamos debaixo delas ensinando coisas que não praticamos. Converti-me há mais de vinte e seis anos atrás e algumas frases venho ouvindo em nossos cultos desde aquela época: “Você precisa cumprir o ide”, “você precisa falar de Jesus”, “você precisa orar” e muitas outras. Dificilmente há um culto onde a frase “você precisa falar de Jesus” não aparece. Estamos constantemente cobrando das pessoas que elas precisam evangelizar, que elas precisam ganhar almas. O problema é que poucas pessoas na igreja levam isto realmente a sério.
      A nossa inconstância e incapacidade em falar de Jesus se dá porque somos inconstantes e inaptos em duas outras coisas: Falar para Jesus (intercessão por outras pessoas – falar para Jesus sobre os outros) e falar com Jesus (Oração devocional diária e constante - adoração, agradecimento, arrependimento, petição).
Se não estamos interessados em tirar tempo para o Senhor, muito menos para falar de Jesus aos outros. Neste artigo eu não vou falar especificamente sobre evangelismo. Isto ficará para um próximo. Vou falar sobre algo que faz com que não tenhamos vontade de evangelizar; a nossa falta de comunhão diária com Deus e consequentemente a falta de intercessão por outras pessoas.
      Peter Wagner em seu livro “Escudo de Oração” relata-nos sobre uma pesquisa com 572 pastores no intuito de obter um raio x da vida de oração de ministros de várias denominações e regiões diferentes. Ele queria descobrir o tempo que cada pastor gastava em verdadeira oração diariamente. A pesquisa não considerou tempo de estudo bíblico, leitura de livros devocionais, audição de fitas ou CD de adoração ou outros componentes de uma vida devocional bem completa. O foco era o período de oração, conversa com Deus. O resultado é estarrecedor. Veja:

    57% oram menos de 20 minutos por dia.
    34% oram entre 20 minutos e 1 hora por dia.
    9% oram 1 hora ou mais por dia.
    A média foi de 22 minutos por dia.

       A pesquisa também constatou algo mais alarmante ainda: 28% - mais de 1 entre 4 pastores – ora menos de 10 minutos por dia! Isto significa que quase um terço dos pastores ora menos de 10 minutos diariamente.
Peter Wagner também dirigiu uma pesquisa em outras quatro nações e descobriu que:

    Os pastores australianos oram em média 23 minutos por dia.
    Os pastores neozelandeses oram em média 30 minutos por dia
    Os pastores japoneses oram em média 44 minutos por dia
    Os pastores coreanos oram em média 90 minutos por dia.

      Na Coréia, outra pesquisa mostrou que 83% dos pastores através das linhas denominacionais oram uma hora e meia ou mais por dia. Um entre cada três pastores oram duas horas ou mais. Geralmente estes pastores oram na média citada acima, entretanto isto não conta o tempo que eles passam no templo junto com a congregação orando pela manhã. Geralmente as igrejas na Coréia tem reuniões de oração diariamente as cinco, seis ou outros horários pela manhã. Você já viu os resultados que eles têm obtido no evangelismo?
Uma pesquisa no Brasil mostrou que a média de oração dos pastores brasileiros é de 5 minutos! É isto mesmo! Acho que está faltando sede de Deus nos pastores brasileiros. Os pastores viraram “homens de negócio” do evangelho. Eles estão muito ocupados para orar por que tem que cuidar dos negócios da igreja. Temos muito que aprender com os pastores coreanos e com Martinho Lutero que disse o seguinte: “Eu tenho tanto para fazer hoje, que terei de gastar as primeiras três horas em oração, ou o diabo terá vitória”.
Estamos atravessando uma crise muito séria. Se os pastores que teoricamente tem tempo para orar oram em média cinco minutos imagine os membros que trabalham diariamente e tem o dia completamente tomado? E o interessante é que há membros orando mais do que os pastores.
      Precisamos aprender muito com a igreja primitiva. Observe este texto:

Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra.” (Atos 6:1-4 RA)

      Perceba que o número de discípulos se multiplicou e por isso a distribuição diária de donativos aumentou também. Isto significava mais trabalho nas ruas e de casa em casa. O que os apóstolos fizeram? Elegeram diáconos para cuidar deste serviço diário para que eles continuassem a se ocupar da Oração e da Palavra. O termo “nos consagraremos” é a tradução do grego proskartereo e significa “permanecer firme”, “Não parar”, Não desanimar”. Uma tradução do verso 4 mais fiel ao original seria: “Mas nós permaneceremos firmes em oração e no ministério da Palavra”. Os apóstolos perceberam que se parassem para atender as viúvas comprometeriam algo importantíssimo para a vida da igreja; a oração e o ministério da Palavra. O que os pastores de hoje fazem? Justamente o contrário! O versículo 7 traz algo interessante. Logo após eles resolverem continuar orando e ministrando a Palavra o texto diz que : “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé”. Há aqui um princípio simples: precisamos pregar a pura e simples Palavra de Deus. A expressão “crescia a Palavra de Deus” significa que a palavra de Deus estava a cada dia sendo pregada por mais pessoas e estava alcançando mais vidas. “Crescia” que vem do grego auxano, está no tempo imperfeito e representa uma ação contínua ou repetida. Isto significa que o crescimento era contínuo. Não era algo paulatino, gradual, um pouco hoje e mais um pouco daqui a alguns dias ou meses. O índice de pregação da Palavra aumentava a cada dia. Aumentava constantemente. E sabe por quê? Porque a cada dia aumentava o número de discípulos! O que o texto nos mostra é que aqueles que se convertiam automaticamente começavam a evangelizar!
      Você sabia que os novos convertidos levam mais pessoas para Cristo do que os mais antigos na fé e do que aqueles que tem algum cargo na igreja? As pesquisas mostram que quanto mais tempo uma pessoa tem de crente e quanto mais cargos ela também tem, menos pessoas ela levará a Jesus. Vou deixar para falar disso em um próximo artigo. Neste momento quero me deter na razão pela qual temos tido tanto insucesso. Observe este outro texto:

Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.” (1 Timóteo 2:1-4 RA)

      “Observe que Paulo diz que „antes de tudo‟ devemos suplicar, orar, interceder e agradecer em favor de todos os homens e principalmente pelos reis e todos os que estão investidos de autoridade. A expressão antes de tudo no grego é próton pás. "Próton" significa: primeiro em tempo ou lugar em qualquer sucessão de coisas. E o termo "pás" significa: tudo, o todo, qualquer um, todas as coisas, qualquer coisa. O texto poderia conter só o termo "próton", porém, para reforçar foi usado "pás" para que entendamos que numa sucessão de coisas a fazer, ou antes de tudo, ou de qualquer coisa que precisemos fazer devemos orar por todos os homens. Entenda o que o apóstolo está ensinando-nos: temos muito trabalho a realizar, porém para sermos eficazes precisamos antes de tudo orar por todos os homens. Antes de cantar, pregar, dançar, realizar eventos e festas, ou antes, de qualquer coisa que façamos na igreja precisamos orar por todos os homens. É a oração que vai abrir a trilha para que possamos construir uma estrada que nos possibilite atingir nossos objetivos evangelísticos como igreja. Paulo sabia muito bem que a oração quebra grilhões e cadeias e que para guerrearmos contra as „potestades, os principados, os dominadores do mundo e as forças espirituais do mal’ é necessário uma vida de oração constante”. (Manual para formação de intercessores – Pr. Valdecy de Jesus Marques , pág. 4)
      Nós resolvemos fazer o contrário do que aprendemos no texto acima: Fazemos tudo primeiro e depois vamos orar, contudo, apenas para que Deus aprove aquilo que nós planejamos e projetamos. Precisamos voltar urgentemente para a Palavra!
      Você percebeu porque temos tido insucesso em falar de Jesus? É porque não estamos falando para Jesus e nem falando com Jesus. Não estamos gastando tempo diário para adorar, confessar os nossos pecados, agradecer ao Senhor, colocar a nossa vida diante dele e não gastamos tempo suficiente para interceder pelos nossos irmãos e pelas pessoas que queremos alcançar com o evangelho.
      Isto é um problema cultural. A nossa cultura evangélica ocidental simplesmente aboliu a oração devocional do dia-a-dia das pessoas. Quem nos discipulou não aprendeu isto e consequentemente nós não aprendemos e se não fizermos um esforço para mudar as coisas não ensinaremos isto à próxima geração. Por isso precisamos hoje ficar inventando eventos, programações, congressos, festas e um monte de coisas que não nos levam a nada. Há pouco tempo passei em frente a uma igreja e vi um cartaz que informava que haveria três dias de festa comemorando um ano do culto de consagração! Em outra, eram três dias de festa porque havia se passado um ano que eles haviam criado o boletim, ou seja: Festa de aniversário do culto de consagração e festa de aniversário do boletim!
      Onde vamos parar com estas coisas? No meio destas festas há um gasto enorme com pregadores, cantores, venda de CD‟s e DVD‟s, cantina e outras coisas. Quando me converti há mais se vinte e seis anos atrás quando íamos ao monte para orar ou quando íamos a uma vigília era para orar a noite inteira. Orávamos de meia-noite às seis da manhã. Hoje, para atrair as pessoas para as vigílias temos que levar cantor famoso (geralmente que cante corinho de fogo) e pessoas que tenham revelação e visão, senão ninguém vai!
Precisamos ensinar os novos crentes a orar diariamente. Em minha experiência pastoral tenho percebido que não obtemos muito sucesso tentando ensinar os crentes antigos a orar diariamente. Se a pessoa não aprendeu isto no início da carreira cristã, dificilmente aprenderá a se disciplinar para orar diariamente. Este é um fato que tenho constatado em diferentes partes do Brasil pessoalmente. Pastoreei em Teresópolis, na região amazônica e atualmente estou na Baixada Fluminense. Tenho ensinado sobre discipulado a muitos pastores por onde tenho passado e as experiências são as mesmas: Há pastores de várias partes do Brasil que usam meu material para discipulado, pequenos grupos e intercessão e vários tem me descrito o “sucesso” que estão tendo em aplicar os princípios aprendidos. Mas há algo em comum. Os pastores que me dizem que suas igrejas estão crescendo após utilizar o material, ou começaram do zero ou então deixaram os crentes antigos de lado, aqueles que não querem mudar, e começaram a levar outras pessoas para Cristo e estes novos crentes é que tem sido a força da igreja. Eles logo se envolvem na oração, no discipulado, no evangelismo e na obra de Deus de forma geral. Os antigos se tornam espectadores ou resolvem mudar. Alguns mudam é de igreja!
      Querido pastor e líder que me “escuta”. Nós podemos mudar este quadro, mas primeiro nós precisamos mudar. Se não nos abrirmos para as mudanças não chegaremos a lugar algum. A mudança deve começar com a nossa vida de oração. Não dá para ficar cantando que estamos apaixonados por Jesus, se não temos intimidade com ele. Marcos Witt citou em uma palestra no Instituto Canzion em Buenos Aires, uma frase impactante, e que se não olharmos radicalmente, pode servir bastante: “Deus esta cansado de apaixonados burros”. Ele estava se referindo a falta de apego e de conhecimento da Palavra por parte dos ministros de louvor, mas esta falta de conhecimento se dá por falta de intimidade. Será que realmente nós pastores estamos apaixonados por Jesus? Será que este amor está contagiando a outros? Que a graça de Cristo nos ajude!

Pr. Valdecy de Jesus Marques
                                                           Nova Iguaçu, 04 de Outubro de 2011

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