Para aqueles que se ligam em missões e
evangelismo, a expressão “Plantar igrejas” é algo comum, no entanto, para a
grande maioria dos crentes, essa é uma expressão nova e soa como mais um
modismo dos nossos tempos. Até mesmo a maioria dos pastores não tem a real compreensão
do que o termo abrange e toda a “teologia”, “filosofia” ou “modus operandi” a
respeito do que realmente significa plantar igrejas.
Para alguns seria um nome mais chique
para algo que nossos predecessores fizeram: abrir novas
congregações. Entretanto, plantar igrejas é mais que abrir novas congregações.
Já tive a experiência de começar duas
igrejas e sei que não é fácil, pois o plantador nem sempre dispõe dos recursos
necessários para tal empreendimento e creio que o principal problema na
realidade é a falta de preparo específico oferecido ao plantador. Os nossos
predecessores nos ensinaram a alugar pequenos salões, ir para as ruas e praças
distribuindo folhetos e convidando as pessoas para os cultos e por fim contar
com a bondade de Deus a fim de que Ele envie as pessoas para as nossas
reuniões. Muitas igrejas começaram à partir de famílias que se mudaram de
cidade e por não haver nenhuma igreja de sua denominação lá, resolveram começar
reuniões caseiras que mais tarde se transformaram em congregações e por fim em
igrejas organizadas. Plantar igrejas é mais do que isto. Pouco ou quase
planejamento algum há por parte das igrejas e de nossas lideranças para que
igrejas sejam plantadas.
POR QUE “PLANTAÇÃO DE
IGREJAS” E O “MITO DA CAVERNA”?
Dentre muitas coisas que o filósofo
Platão escreveu, “O Mito da Caverna” é uma das coisas que mais gosto. Não vou
entrar nos pormenores, vou resumir para que você entenda porque estou
associando este assunto ao plantio de igrejas.
Platão nos faz imaginar uma caverna
onde há pessoas acorrentadas onde há somente um feixe de luz. Geração após
geração as pessoas encontram-se ali de costas para a entrada vendo apenas as
sombras do mundo exterior que penetram devido ao pequeno feixe de luz. Um dia
alguém conseguiu romper as barreiras e saiu para o mundo exterior. No início a
luz do sol ofuscou-lhe o olhar, contudo a vontade de saber o que há do lado de
fora o faz resistir ao incômodo e pouco depois ele começa a ver como o mundo real
é belo e como ele realmente é. Com o tempo ele retorna para contar aos demais o
que viu. Alguns não acreditam nele e tentam até matá-lo, outros até tentam
sair, mas não resistem à luz do sol e retornam.
Falo isto com muito tremor e temor: esta
é a situação do cristianismo hoje. As gerações de líderes que nos precederam
nos fizeram viver acorrentados em uma caverna sem enxergar o verdadeiro
cristianismo bíblico. Quando alguém consegue sair da “caverna” e compreende o
evangelho como ele realmente é, e então resolve levar os demais a ver “o mundo
lá fora”, não é compreendido, é chamado de louco e até de herege.
Infelizmente, mesmo que as pessoas
queiram se basear na Bíblia, o seu pragmatismo e interpretação serão sempre
realizados através das lentes da tradição. Criamos muitos sofismas teológicos,
eclesiológicos, eclesiásticos e estruturais que nos fazem entender a Bíblia não
como ela é, mas sempre dentro do que aprendemos por anos a fio. A nossa liturgia, a nossa estrutura
eclesiástica, o nosso sistema de educação, o nosso modelo de discipulado e pastoreio
e muita coisa mais são praticados mediante as sombras que estamos vendo no
fundo da caverna e infelizmente insistimos em não querer ouvir aqueles que
conseguem ver o mundo lá fora.
Plantação de “cavernas”
É duro o que vou dizer, mas infelizmente
estamos na realidade reproduzindo modelos em série das nossas “cavernas” ao
contrário de plantar igrejas baseadas em princípios bíblicos. Quando os
“modernos” métodos de plantação de igrejas são apresentados, isto é algo
surreal para a nossa liderança e principalmente para os nossos pastores. Quase
100 % dos nossos seminários teológicos não têm uma disciplina que aborde o
assunto de maneira satisfatória, quiçá treinamento e estágio específicos nesta
área. O resultado são cópias fidedignas das nossas avelhantadas estruturas que infelizmente
não tem causado impacto ou feito diferença alguma. O mais trágico é que
queremos também reproduzir as nossas “cavernas” nos campos missionários. Temos
tido dificuldade em plantar igrejas fora do Brasil porque queremos levar para
além-mar o nosso ultrapassado modelo tupiniquim.
NÃO HÁ MULTIPLICAÇÃO DE
IGREJAS SEM MULTIPLICAÇÃO DE VIDAS
O grande problema é que pensamos sempre
em reproduzir prédios e estruturas, sem levar em consideração que a Igreja de
Jesus é formada por pessoas e uma igreja local deve ser o reflexo desta. O
próprio Jesus não multiplicou prédios nem estruturas. Jesus não tinha um prédio
onde concentrava os seus esforços. Ele andava com os discípulos por toda a
parte no meio das pessoas que queria alcançar. Jesus lidava direto com as
pessoas e treinou um pequeno grupo ensinando-os a se multiplicar em outras
vidas.
Da mesma forma, o apóstolo Paulo não
deixou prédios, catedrais suntuosas, ou nem mesmo um influente seminário para
formar seus líderes. Ele se “reproduziu” em pessoas que se reproduziram em
outras pessoas. Veja o que ele disse ao seu discípulo Timóteo:
“E o que você aprendeu
comigo, transmite a homens fiéis e capazes, para que estes também ensinem a
outras pessoas” 2Tm
2.2 (tradução livre).
Não creio em
multiplicação de igrejas sem que haja “partos espirituais”
O maior plantador de igreja da história
se baseou em gerar vidas e não em multiplicar estruturas.
O nosso problema é que não aprendemos a
gerar vidas. A tradição nos ensinou a ter como Padrão os três mil que se
converteram no pentecostes e os cinco mil que se converteram posteriormente,
contudo este não é o padrão neo-testamentário para o crescimento da igreja. O
padrão e o normativo é o texto de At 2.47, que diz que a cada dia o Senhor ia
acrescentando os que iam sendo salvos. Aliado a este texto temos o texto de Gl
4.19 onde Paulo diz que estava disposto a sofrer dores de parto novamente até
que os discípulos da Galácia chegassem à maturidade:
“Meus filhos, por quem, de novo, sofro
as dores de parto, até ser Cristo formado em vós;”
Observe o ministério de Paulo e você verá que
ele gerou vidas através da oração e intercessão, através do seu companheirismo
e amizade, através do amor e do treinamento. Em vários momentos Paulo se
considera “Pai” daqueles a quem ganhou e treinou, veja 1 Ts 2.11-12, 1Co 4.15
O normativo não é vermos Paulo ganhando
pessoas em massa, mas investindo em pessoas, uma a uma. Observe a despedida
dele no final da carta ao Romanos e perceba as pessoas que ele cita pelos nomes
e a intimidade que ele tinha com eles.
Há um momento em que paulo compara o
seu cuidado com os tessalonicenses ao cuidado que uma mãe dá a seus filhos:
“Fomos
bondosos quando estávamos entre vocês, como uma mãe que cuida de seus próprios filhos. sentindo,
assim, tanta afeição por vocês, decidimos dar-lhes não somente o evangelho de
Deus, mas também a nossa própria vida, porque vocês se tornaram muito
amados por nós”. (1Ts 2.7-8)
O que estou falando é que a igreja
precisa aprender que conversões devem ser resultado de “partos da alma” ou
“partos espirituais”. O que é isso? Não é nenhuma heresia! A igreja precisa a semelhança
dos apóstolos aprender a gerar vidas em seus úteros espirituais. Precisamos
aprender a ganhar e cuidar daquelas pessoas que precisam conhecer a Cristo.
Conversões em massa não é o padrão bíblico e infelizmente é isto que a igreja
tem buscado. O verdadeiro crescimento da igreja só se dará quando as pessoas
aprenderem a gerar novas vidas, quando elas prenderem que conversão é resultado de multiplicação. Quando uma pessoa ganha alguém para Cristo através
da oração, da batalha espiritual, da amizade e de outros fatores ela
automaticamente cuidará para que o recém convertido seja cuidado. Precisamos
aprender muito sobre “Paternidade Espiritual”. Multiplicação de igreja demanda
o entendimento do que é paternidade espiritual.
Há igrejas que por terem um enorme
poder na mídia abrem novos templos e em pouco tempo conseguem apinhá-los de
gente, contudo vá e observe que na realidade são pessoas que já passaram por
outras igrejas e estão lá agora atraídas por milagres e outra beneficies oferecidas. Plantar igrejas é mais que inaugurar novos locais de reunião.
Aliás, há no mundo um tremendo movimento de plantação de igrejas onde templos
só são erguidos ou alugados quando se faz necessário, pois o prioritário são os
relacionamentos.
A IGREJA PRECISA DE
CURA: um organismo estéril e doente vai gerar organismos estéreis e doentes
Não podemos falar de plantar igrejas
sem antes levar as nossas igrejas a um processo de cura. E o mais duro de
admitir é que a cura deve começar pela nossa liderança. Há pastores precisando
de cura interior e de libertação. Boa parte dos nossos pastores estão feridos,
magoados, doentes e presos em amarras do diabo. O índice de pastores viciados
em internet e pornografia é altíssimo. Entre nas redes sociais pelas madrugadas e
você verá que a nossa liderança está por lá todos os dias. Não é à toa que a
média de oração dos pastores brasileiros é de menos de 20 minutos por dia!
Preste atenção! Não estou falando da
invisível Igreja de Cristo. Esta é santa e imaculada. Estou falando das igrejas
locais que estão doentes e são um corpo disforme e muito diferente do que é o
modelo bíblico.
Concordo com todo o esforço empreendido
em ensinar os pastores a plantar igrejas, mas temo que comecemos a multiplicar “cavernas” e
estruturas disfuncionais. Aqueles que estão empenhados nesta missão estão
buscando tirar as pessoas das cavernas. Fico
com as palavras do Pr. Davi Ramirez no seminário para capacitação de liderança.
Em uma paráfrase do que ele disse, evidencio que precisamos destruir as nossas
estruturas a fim de erguermos estruturas que sejam bíblicas e contemporâneas. A
tentativa de plantar igrejas seguindo o modelo de estrutura que temos não nos
levará a grandes resultados. O nosso tradicionalismo – apego demasiado as
nossas tradições – Está nos impedindo de pôr em prática aquilo que aprendemos
em seminários de capacitação de líderes, seminários para plantação de igrejas,
no Instituto Haggai, nas reciclagens ministeriais e outros eventos.
Oremos para que o Senhor nos ajude a ver a
igreja com os olhos d’Ele e não com os nossos, ou sob a perspectiva do
tradicionalismo. Com
Texto escrito com humildade e com temor por
alguém que tem se esforçado para sair da caverna, que sabe que precisa aprender
muita coisa ainda e que quer ver a IDB despontar-se como uma tremenda potência
neste Brasil e no mundo
Valdecy
de Jesus Marques
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