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sábado, 4 de agosto de 2012

PLANTAÇÃO DE IGREJAS E "O MITO DA CAVERNA"



Para aqueles que se ligam em missões e evangelismo, a expressão “Plantar igrejas” é algo comum, no entanto, para a grande maioria dos crentes, essa é uma expressão nova e soa como mais um modismo dos nossos tempos. Até mesmo a maioria dos pastores não tem a real compreensão do que o termo abrange e toda a “teologia”, “filosofia” ou “modus operandi” a respeito do que realmente significa plantar igrejas.
         Para alguns seria um nome mais chique para algo que nossos predecessores fizeram: abrir novas congregações. Entretanto, plantar igrejas é mais que abrir novas congregações.
         Já tive a experiência de começar duas igrejas e sei que não é fácil, pois o plantador nem sempre dispõe dos recursos necessários para tal empreendimento e creio que o principal problema na realidade é a falta de preparo específico oferecido ao plantador. Os nossos predecessores nos ensinaram a alugar pequenos salões, ir para as ruas e praças distribuindo folhetos e convidando as pessoas para os cultos e por fim contar com a bondade de Deus a fim de que Ele envie as pessoas para as nossas reuniões. Muitas igrejas começaram à partir de famílias que se mudaram de cidade e por não haver nenhuma igreja de sua denominação lá, resolveram começar reuniões caseiras que mais tarde se transformaram em congregações e por fim em igrejas organizadas. Plantar igrejas é mais do que isto. Pouco ou quase planejamento algum há por parte das igrejas e de nossas lideranças para que igrejas sejam plantadas.

POR QUE “PLANTAÇÃO DE IGREJAS” E O “MITO DA CAVERNA”?

         Dentre muitas coisas que o filósofo Platão escreveu, “O Mito da Caverna” é uma das coisas que mais gosto. Não vou entrar nos pormenores, vou resumir para que você entenda porque estou associando este assunto ao plantio de igrejas.
         Platão nos faz imaginar uma caverna onde há pessoas acorrentadas onde há somente um feixe de luz. Geração após geração as pessoas encontram-se ali de costas para a entrada vendo apenas as sombras do mundo exterior que penetram devido ao pequeno feixe de luz. Um dia alguém conseguiu romper as barreiras e saiu para o mundo exterior. No início a luz do sol ofuscou-lhe o olhar, contudo a vontade de saber o que há do lado de fora o faz resistir ao incômodo e pouco depois ele começa a ver como o mundo real é belo e como ele realmente é. Com o tempo ele retorna para contar aos demais o que viu. Alguns não acreditam nele e tentam até matá-lo, outros até tentam sair, mas não resistem à luz do sol e retornam.
         Falo isto com muito tremor e temor: esta é a situação do cristianismo hoje. As gerações de líderes que nos precederam nos fizeram viver acorrentados em uma caverna sem enxergar o verdadeiro cristianismo bíblico. Quando alguém consegue sair da “caverna” e compreende o evangelho como ele realmente é, e então resolve levar os demais a ver “o mundo lá fora”, não é compreendido, é chamado de louco e até de herege.
         Infelizmente, mesmo que as pessoas queiram se basear na Bíblia, o seu pragmatismo e interpretação serão sempre realizados através das lentes da tradição. Criamos muitos sofismas teológicos, eclesiológicos, eclesiásticos e estruturais que nos fazem entender a Bíblia não como ela é, mas sempre dentro do que aprendemos por anos a fio.  A nossa liturgia, a nossa estrutura eclesiástica, o nosso sistema de educação, o nosso modelo de discipulado e pastoreio e muita coisa mais são praticados mediante as sombras que estamos vendo no fundo da caverna e infelizmente insistimos em não querer ouvir aqueles que conseguem ver o mundo lá fora.

Plantação de “cavernas”

         É duro o que vou dizer, mas infelizmente estamos na realidade reproduzindo modelos em série das nossas “cavernas” ao contrário de plantar igrejas baseadas em princípios bíblicos. Quando os “modernos” métodos de plantação de igrejas são apresentados, isto é algo surreal para a nossa liderança e principalmente para os nossos pastores. Quase 100 % dos nossos seminários teológicos não têm uma disciplina que aborde o assunto de maneira satisfatória, quiçá treinamento e estágio específicos nesta área. O resultado são cópias fidedignas das nossas avelhantadas estruturas que infelizmente não tem causado impacto ou feito diferença alguma. O mais trágico é que queremos também reproduzir as nossas “cavernas” nos campos missionários. Temos tido dificuldade em plantar igrejas fora do Brasil porque queremos levar para além-mar o nosso ultrapassado modelo tupiniquim.

NÃO HÁ MULTIPLICAÇÃO DE IGREJAS SEM MULTIPLICAÇÃO DE VIDAS

         O grande problema é que pensamos sempre em reproduzir prédios e estruturas, sem levar em consideração que a Igreja de Jesus é formada por pessoas e uma igreja local deve ser o reflexo desta. O próprio Jesus não multiplicou prédios nem estruturas. Jesus não tinha um prédio onde concentrava os seus esforços. Ele andava com os discípulos por toda a parte no meio das pessoas que queria alcançar. Jesus lidava direto com as pessoas e treinou um pequeno grupo ensinando-os a se multiplicar em outras vidas.
         Da mesma forma, o apóstolo Paulo não deixou prédios, catedrais suntuosas, ou nem mesmo um influente seminário para formar seus líderes. Ele se “reproduziu” em pessoas que se reproduziram em outras pessoas. Veja o que ele disse ao seu discípulo Timóteo:

“E o que você aprendeu comigo, transmite a homens fiéis e capazes, para que estes também ensinem a outras pessoas” 2Tm 2.2 (tradução livre).


Não creio em multiplicação de igrejas sem que haja “partos espirituais”

         O maior plantador de igreja da história se baseou em gerar vidas e não em multiplicar estruturas.
         O nosso problema é que não aprendemos a gerar vidas. A tradição nos ensinou a ter como Padrão os três mil que se converteram no pentecostes e os cinco mil que se converteram posteriormente, contudo este não é o padrão neo-testamentário para o crescimento da igreja. O padrão e o normativo é o texto de At 2.47, que diz que a cada dia o Senhor ia acrescentando os que iam sendo salvos. Aliado a este texto temos o texto de Gl 4.19 onde Paulo diz que estava disposto a sofrer dores de parto novamente até que os discípulos da Galácia chegassem à maturidade:

Meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós;”

Observe o ministério de Paulo e você verá que ele gerou vidas através da oração e intercessão, através do seu companheirismo e amizade, através do amor e do treinamento. Em vários momentos Paulo se considera “Pai” daqueles a quem ganhou e treinou, veja 1 Ts 2.11-12, 1Co 4.15
         O normativo não é vermos Paulo ganhando pessoas em massa, mas investindo em pessoas, uma a uma. Observe a despedida dele no final da carta ao Romanos e perceba as pessoas que ele cita pelos nomes e a intimidade que ele tinha com eles.
         Há um momento em que paulo compara o seu cuidado com os tessalonicenses ao cuidado que uma mãe dá a seus filhos:

Fomos bondosos quando estávamos entre vocês, como uma mãe que cuida de seus próprios filhos. sentindo, assim, tanta afeição por vocês, decidimos dar-lhes não somente o evangelho de Deus, mas também a nossa própria vida, porque vocês se tornaram muito amados por nós. (1Ts 2.7-8)

         O que estou falando é que a igreja precisa aprender que conversões devem ser resultado de “partos da alma” ou “partos espirituais”. O que é isso? Não é nenhuma heresia! A igreja precisa a semelhança dos apóstolos aprender a gerar vidas em seus úteros espirituais. Precisamos aprender a ganhar e cuidar daquelas pessoas que precisam conhecer a Cristo. Conversões em massa não é o padrão bíblico e infelizmente é isto que a igreja tem buscado. O verdadeiro crescimento da igreja só se dará quando as pessoas aprenderem a gerar novas vidas, quando elas prenderem que conversão é resultado de multiplicação. Quando uma pessoa ganha alguém para Cristo através da oração, da batalha espiritual, da amizade e de outros fatores ela automaticamente cuidará para que o recém convertido seja cuidado. Precisamos aprender muito sobre “Paternidade Espiritual”. Multiplicação de igreja demanda o entendimento do que é paternidade espiritual.
         Há igrejas que por terem um enorme poder na mídia abrem novos templos e em pouco tempo conseguem apinhá-los de gente, contudo vá e observe que na realidade são pessoas que já passaram por outras igrejas e estão lá agora atraídas por milagres e outra beneficies oferecidas. Plantar igrejas é mais que inaugurar novos locais de reunião. Aliás, há no mundo um tremendo movimento de plantação de igrejas onde templos só são erguidos ou alugados quando se faz necessário, pois o prioritário são os relacionamentos.

A IGREJA PRECISA DE CURA: um organismo estéril e doente vai gerar organismos estéreis e doentes

         Não podemos falar de plantar igrejas sem antes levar as nossas igrejas a um processo de cura. E o mais duro de admitir é que a cura deve começar pela nossa liderança. Há pastores precisando de cura interior e de libertação. Boa parte dos nossos pastores estão feridos, magoados, doentes e presos em amarras do diabo. O índice de pastores viciados em internet e pornografia é altíssimo. Entre nas redes sociais pelas madrugadas e você verá que a nossa liderança está por lá todos os dias. Não é à toa que a média de oração dos pastores brasileiros é de menos de 20 minutos por dia!
         Preste atenção! Não estou falando da invisível Igreja de Cristo. Esta é santa e imaculada. Estou falando das igrejas locais que estão doentes e são um corpo disforme e muito diferente do que é o modelo bíblico.
         Concordo com todo o esforço empreendido em ensinar os pastores a plantar igrejas, mas temo que  comecemos a multiplicar “cavernas” e estruturas disfuncionais. Aqueles que estão empenhados nesta missão estão buscando tirar as pessoas das  cavernas. Fico com as palavras do Pr. Davi Ramirez no seminário para capacitação de liderança. Em uma paráfrase do que ele disse, evidencio que precisamos destruir as nossas estruturas a fim de erguermos estruturas que sejam bíblicas e contemporâneas. A tentativa de plantar igrejas seguindo o modelo de estrutura que temos não nos levará a grandes resultados. O nosso tradicionalismo – apego demasiado as nossas tradições – Está nos impedindo de pôr em prática aquilo que aprendemos em seminários de capacitação de líderes, seminários para plantação de igrejas, no Instituto Haggai, nas reciclagens ministeriais e outros eventos.

Oremos para que o Senhor nos ajude a ver a igreja com os olhos d’Ele e não com os nossos, ou sob a perspectiva do tradicionalismo. Com

Texto escrito com humildade e com temor por alguém que tem se esforçado para sair da caverna, que sabe que precisa aprender muita coisa ainda e que quer ver a IDB despontar-se como uma tremenda potência neste Brasil e no mundo

                                                        Valdecy de Jesus Marques


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